
Como foi a minha primeira viagem para Angola em 2020
Viagens para países africanos costumam ser retratadas com os dois principais clichês: Safáris e passeios desérticos pela África Setentrional, especialmente no Egito. Muito disso se deve aos investimentos no turismo ainda serem muito embrionários no continente.
O que proponho nesse artigo, é a minha visão de viagem para Angola, uma experiência com o olhar voltado para cultura e história do país, e ainda, laços afetivos, como logo entenderemos o porquê. Abordaremos também, os custos, transporte e curiosidades de uma viajante.
Por que fui para Angola?
Antes de mais nada, o contexto da viagem. Eu me chamo Andressa, sou brasileira, minha família materna é brasileira e meu pai e toda a minha família paterna são angolanos. Em 2020 foi a primeira vez que eu tive a oportunidade de conhecer o país de origem do meu pai, isso por que, além de questões logísticas mais imediatas, durante a maior parte dos anos da minha infância meu pai viveu nos Estados Unidos, graças a uma bolsa de estudos.
Quanto tempo fiquei em Angola?
A minha viagem, teve a duração de um mês e o meu maior desejo com ela, era conhecer toda a minha família paterna e iniciar pessoalmente uma construção mais palpável dessa relação com parte das minhas origens.
Sobre Angola
Onde se localiza?
Angola fica no litoral da África central e em sua capital, Luanda, concentra a maior parte da população urbana da nação, isso por que, ainda é um país com quase metade da população vivendo em zonas rurais. Essa é só a primeira das várias dicotomias que o país apresenta, e posso afirmar que ao longo de toda a viagem, os contrastes sempre voltam a se mostrar de forma mais ou menos sutil.
Quais línguas se falam em Angola?
Por ser um país, assim como o Brasil marcado pela colonização portuguesa, o idioma predominante é o português, além de algumas línguas nativas, com destaque para as duas principais, Umbundu, referente aos povos do centro-sul do país, e o Kimbundu, originário nos povos do norte angolano, o idioma que por mais tempo conviveu com o português em Angola.
O que fazer em Angola?
Aqui estão algumas das diversas possibilidades que o país oferece a um visitante:
- Praias;
- Ilhas;
- Pontos históricos do período colonial;
- Muita arte local;
- Pequenos povoados em regiões interioranas;
- Parques nacionais preservados;
- Fendas geológicas;
- Quedas d’água.
A guerra em Angola
De 1975 a 2002, Angola esteve em guerra civil, e os vestígios desse passado recente são facilmente encontrados em uma simples viagem de carro para cidades em torno da capital.
Tanques e canhões de guerra ainda podem ser vistos em campos onde os conflitos aconteciam.
Para a viagem
O que é preciso para viajar para Angola?
Para brasileiros, Angola exige um visto de turista para a entrada no país, que pode ser obtido com relativa facilidade. Eu optei, no entanto, por fazer a minha cidadania e passaporte angolanos, mais ou menos 1 ano antes da viagem, já que o meu intuito é sempre retornar sem burocracia.
Quanto custa viajar para Angola?
Com apenas 2 meses de antecedência da viagem, comprei as passagens de ida e volta pela Viajanet, da Taag, uma companhia angolana que diariamente faz voos diretos entre Brasil e Angola. Esse é um roteiro que há alguns anos atrás não era possível sem ao menos uma escala em Joanesburgo, na África do Sul.
O valor das duas passagens foi de R$1937,08, os encargos foram de R$365,91, somando R$2302,99. Esses valores podem variar muito para cima de acordo com a época do ano e cotação do dólar.
A moeda do país é o Kwanza angolano. Em 2022, um deles equivale a 1 centavo da moeda brasileira.
Apesar das passagens apresentarem um valor baixo, os custos a partir da chegada no país são sempre elevados. Luanda já foi a cidade mais cara do mundo, e tem uma moeda muito inflacionada desde a crise de 2008. A estadia, locomoção e alimentação são despesas que mesmo em uma viagem modesta e econômica custam caro.
Como se locomover em Angola?
Dependendo das suas possibilidades financeiras, é interessante alugar um carro e conhecer o interior das províncias e a capital. O transporte em Angola é bastante restrito. Há pouquíssimos ônibus dentro da cidade e pessoas que não tem veículo costumam alugar táxis privados em grupo, que são como vans para mais ou menos 10 pessoas e que se organizam na hora da partida de acordo com os destinos.
Outra opção muito utilizada são os mototáxis, interessantes pontualmente, mas em uma viagem mais longa não devem ser a primeira opção. A maioria dos mototaxistas trabalham de forma independente, portanto é possível negociar o valor das corridas e conseguir um preço mais em conta.
Chegando em Luanda
Depois de um voo de apenas 8 horas, cheguei em Luanda no início da tarde e fui recebida amorosamente pela minha família no aeroporto. O clima quente, apesar de previsto, foi mais intenso do que eu estava preparada. O ar húmido e a maresia também foram perceptíveis logo nos primeiros minutos.
Durante o trajeto de menos de meia hora de carro do aeroporto até Viana, uma cidade da província de Luanda, quase anexa à capital, já tive contato com algumas das várias realidades que convivem dentro de Angola.
Como são as ruas em Angola?
Em áreas muito movimentadas, há muitos ambulantes vendendo frutas e verduras na beira da estrada. Em regiões à beira mar, adultos e crianças oferecem frutos do mar recém pescados. Em regiões próximas ao centro e à ilha, há quilômetros de prédios exuberantes que, gradativamente, ao se distanciar das zonas de maior renda per capita, se transformam em barracos de lata aglomerados em áreas planas.
Há também regiões intermediárias, em que a maioria das casas não podem ser vistas, os pátios são completamente cobertos por muro e portão.
Cultura Angolana
Um casamento no interior de Angola
Eu definitivamente não tinha roupa pra esse evento. No meu terceiro dia em Angola, meu primo me convidou para um casamento que aconteceria em outra província. Depois de algumas provas de roupa, comprei um vestido e estava na estrada para o Sumbe, a cidade da cerimônia.
O Sumbe fica na província do Kwanza Sul. A cidade é pequena e tem uma aparência de vilarejo pelas casas bastante semelhantes, que assim como toda extensão da cidade são rodeadas por palmeiras.
As festividades do casamento tiveram 3 dias de duração, e mesclaram alguns ritos tradicionais da cultura das famílias, com uma contemporaneidade ligada à vida urbana dos noivos.
No primeiro dia, as famílias fizeram uma confraternização para firmarem o acordo com tudo que estava envolvido no casamento, desde aspectos relacionais, que consideram essenciais em um matrimônio, até um acordo financeiro. Essa reunião acontece à noite e tem muitas horas de duração.
No segundo dia, aconteceu a cerimônia em uma igreja evangélica pela manhã. À tarde, outra cerimônia na praia, próximo ao hotel onde aconteceu a festa à noite.
No terceiro dia, a comemoração foi em uma casa, onde um cordeiro foi oferecido tradicionalmente pela família da noiva para encerrar as comemorações.
Pontos pontos turísticos para conhecer em Angola
Quedas de Kalandula
Esse é um dos lugares mais encantadores que visitei. Localizadas na província de Malanje, as quedas possuem mais de 400m de extensão e 100m de altura. Ficam há 80 km da capital e é possível observá-las de vários ângulos, do miradouro, das pedras da parte superior, e de baixo, após fazer uma trilha média até o rio Lucala.
Museu da Escravatura
O museu fica no morro da Cruz, na cidade de Luana mesmo, e é o local onde as pessoas escravizadas eram batizadas antes de serem levadas para a América nos navios negreiros. O museu reúne muitas peças que foram utilizadas nesse processo e a visita é uma experiência profunda, impactante e sem dúvidas triste.
Ilha do Mussulo
Esse é um passeio que pode ser feito no mesmo dia de visita ao museu, por ficar a uma hora de carro do morro da Cruz. Para chegar é possível também alugar um barco e ir pelo mar. Nessa Ilha ficam as casas dos militares e pessoas mais ricas do país, e uma parte voltada ao turismo, com hotéis, restaurantes e lounges para passar o dia na praia.
Fenda da Lua
A atração turística mais visitada em Angola, é um conjunto de falésias no sul do país, na cidade de Belas. A vista é simplesmente encantadora e como o próprio nome afirma, remete à uma paisagem lunar e foi cenário do filme premiado “O miradouro da Lua”.
Feira de artesanato do Benfica
Em Luanda, em várias praias é possível encontrar artistas locais vendendo esculturas, acessórios, telas, máscaras, bolsas, roupas e até os tecidos, que são belíssimos e bastante característicos da cultura. No entanto, a Feira do Benfica reúne os artistas ou intermediários que revendem, e as opções são muito maiores. Nessa feira é importante avaliar tudo com calma, negociar e é claro, pechinchar.
Muitas peças são feitas em “pau preto”, um tipo especial de madeira que se pode adquirir esculturas como “O pensador”, um símbolo tanto de unidade cultural angolana quanto das sabedorias específicas que o líder de cada região transmite a sua comunidade.
Angola é um país de uma riqueza cultural imensa e que ainda vive muitas mazelas do pós-guerra e é claro, da colonização. Uma viagem por esse país é uma experiência alegre, colorida, cheia de ritmo, musicalidade, inúmeras semelhanças com o Brasil e infinitas particularidades a cada região.